sábado, 24 de fevereiro de 2018

2018 Honda Fit EXL 1.5 CVT; o preço da evolução

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Honda Automóveis do Brasil




Sabe aqueles casos onde o irmão menor supera o maior? É o que vem acontecendo na Honda de uns tempos pra cá. Quando a montadora renovou o Fit em 2014, o compacto com jeitão de monovolume ganhou um design bem mais atraente, mas manteve os preços elevados sem realizar grandes mudanças em matéria de conjunto mecânico ou itens de série. Aliás, as mudanças aconteceram mas foram pra pior, pois determinados equipamentos se perderam na transição como freios a disco nas quatro rodas, ar condicionado digital, aletas para trocas de marcha no volante, entre outros.

Apesar disso, a vida do Fit seguia tranquila até a chegada do HR-V, um SUV compacto de estilo bastante arrojado e motor 1.8 que conquistou o mercado e fez o irmão hatch perder cada vez mais espaço. Somou-se a isso a modernização dos concorrentes, e as luzes de emergência começaram a piscar para a Honda; era hora de se mexer.


O que mudou?

Nós noticiamos as mudanças do Fit assim que saíram (confira aqui), mas vamos focar na versão EXL da nossa avaliação. A topo-de-linha sai por R$80.900, não há opcionais e ela vem muito bem servida, inclusive recebendo itens inéditos na história do Fit brasileiro: há ar condicionado automático digital touchscreen, vidros elétricos nas quatro portas (um-toque pros dianteiros), travas elétricas, retrovisores com seta em LED e rebatimento elétrico, faróis de neblina, rodas de 16 polegadas, sistema de bancos ULTRa SEAT, encostos de cabeça e cintos de três pontos para os três ocupantes traseiros, volante multifuncional com ajuste de altura e profundidade, computador de bordo, entre outros. Sobre os itens inéditos, destacamos os seis airbags, a nova multimídia com GPS, Bluetooth, câmera de ré com até três visualizações diferentes e espelhamento para smartphones, além dos faróis Full LED com luzes diurnas integradas, todos exclusivos dessa versão.

Demais mudanças incluem o retorno dos paddle-shifters ao volante e as alterações externas. A nova grade dianteira ostenta um friso cromado que se completa nas luzes diurnas integradas aos faróis, criando um interessante visual fluído, enquanto que o para-choque traz desenho mais rebuscado. Na traseira as mudanças estão nas lanternas com LEDs para luzes de posição e freio (inclusive ocupando até a porção vertical na tampa do porta-malas que antes era inútil), bem como no para-choque mais pronunciado para proteger a tampa do porta-malas, vítima constante de avarias no modelo pré-facelift.


Em time que está ganhando...

Entre tantas novidades bem-vindas, uma coisa seguiu inalterada: o motor 1.5 i-VTEC aspirado flex de 116cv e 15,3kgfm de torque. Até mesmo a transmissão CVT foi atualizada e agora pode simular até sete marchas no modo Sport (basta descer a alavanca do câmbio de D para S). A manutenção do motor se explica na preocupação da Honda em privilegiar a economia de combustível em detrimento do desempenho, e a adoção da simulação de marchas na transmissão CVT com o uso das aletas no volante visa atender aos proprietários do modelo da geração passada (que sentiram falta do item), além de quebrar um pouco a monotonia ao conduzir o japonês.

Em trânsito urbano intenso e ar ligado, o computador de bordo marcou entre 12 e 13km/l; já em trechos rodoviários a 80km/h e ar desligado, chegou a marcar ótimos 17,7km/l. É importante ressaltar que os indicativos de consumo nunca são muito precisos, pois dependem de inúmeros fatores como altitude em relação ao mar, tipo de combustível, forma de condução do motorista, peso líquido do carro, entre outros. O bom é que para ajudar o proprietário a economizar, há dois LEDs nas laterais do velocímetro que mudam suas cores de verde pra azul na medida em que a direção fica mais ou menos econômica.


Misto de sensações

A cabine do Fit desperta sensações tanto boas quanto ruins. As boas se devem ao aproveitamento eficiente do espaço interno (não falta espaço para as pernas de ninguém, mesmo sem ser o maior entre-eixos da categoria), ergonomia decente ao volante (que traz ajustes de altura e profundidade), boa visibilidade externa graças a ampla área envidraçada e ao sistema de som que, mesmo tendo apenas seis alto-falantes, reproduz áudios com uma definição difícil de ver igual. Já as ruins vão pro acabamento interno que traz muitos plásticos duros e é deveras ruidoso, além das portas USB mal localizadas, do apoio de braço "inútil" por ser baixo demais e da predominância de elementos em preto brilhante no painel, bonitos mas que são um verdadeiro pesadelo pra quem odeia marcas de dedo.

Andando, a mistura de impressões se repete de forma bem clara. A suspensão não consegue se entender com as imperfeições da pista, transmitindo as pancadas para o interior sem muito filtro; em contrapartida, é nas estradas bem pavimentadas que o Fit se sente em casa, pois o comportamento é firme e seguro mesmo nos trechos mais sinuosos. A impressão que dá é a de se tratar de um carro de família com um forte desejo de ser esportivo.


Casos de família

Lembra que dissemos, no começo do texto, sobre o irmão menor superar o maior? A gente explica: atualmente há dois outros modelos baseados no Fit com preços perigosamente próximos: o pseudo-utilitário WR-V (que avaliamos aqui) e o sedan City atualizado recentemente. Acontece que ambos custam mais que o Fit e não trazem os mesmos itens de segurança, a exemplo dos controles de estabilidade e tração que vem de série em todas as versões do Fit 2018, mas estão completamente ausentes dos irmãos mais caros. Uma postura estranha da Honda, mas que coloca o Fit entre os carros mais seguros não apenas da marca, mas também no mercado brasileiro: o modelo conquistou cinco estrelas tanto no crash test do Latin NCAP quanto no temido IIHS norte-americano, famoso por seus critérios rigorosos.


O que dá pra melhorar?

É fato que algumas alterações precisam ser feitas para que o preço final do produto se mantenha competitivo, mas na nossa opinião, a montadora poderia revisar certas características do Fit a fim de torná-lo mais interessante; adotar uma calibragem mais macia para a suspensão, bem como retomar os freios a disco na traseira (que ainda não voltaram desde o fim da geração passada), aplicar materiais melhores para a cabine e incluir sensores traseiros de estacionamento. O conhecido 1.5 i-VTEC agrada pela economia, mas se mostra um tanto indisposto quando mais exigido (como subidas de serra ou carro cheio); o sistema de simulação de marchas é bom e funciona rápido, mas não resolve o problema da apatia de imediato a menos que o motorista afunde o pé no acelerador, condenando os passageiros ao ronco estridente do motor invadindo a cabine devido aos giros lá em cima.


Vale a pena?

No final das contas, a pergunta será respondida de acordo com suas prioridades. Se seu objetivo principal é comprar um carro seguro e econômico para levar a família, vá em frente; os muitos itens de segurança e as 5 estrelas em crash-tests fazem do Fit um competidor formidável no cenário automotivo atual, apesar de seu preço bastante elevado. Se busca um melhor desempenho e mais itens de tecnologia, talvez alguns concorrentes lhe sejam mais interessantes - já colocamos o Fit EXL contra as novidades VW Polo Highline 200 TSI e Fiat Argo HGT AT6. Confira aqui como eles se saíram!


Ficha técnica

Motor: 1.5, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, flex
Potência: 116cv (E) / 115cv (G) a 6.000rpm
Torque: 15,3kgfm (E ou G) a 4.800rpm
Transmissão: CVT com sete marchas simuladas
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 185/55 R16
Comprimento: 4,09m
Largura: 1,69m
Entre-eixos: 2,53m
Altura: 1,53m
Peso: 1.104kg
Porta-malas: 363l
Tanque: 45l
0 a 100km/h (estimado): 12 segundos
Velocidade máxima: 172km/h

Principais equipamentos de série: ar condicionado, vidros elétricos nas quatro portas, travas elétricas, retrovisores com ajustes elétricos, repetidores de seta e rebatimento, sistema de som com seis alto-falantes, banco do motorista e cintos dianteiros com ajuste de altura, console central com porta-copos, duas entradas USB e uma HDMI, iluminação interna no porta-malas, quebra-sóis com espelho, porta-revistas nos bancos dianteiros, bancos em couro, banco traseiro bi-partido, faróis de neblina.

Fotos (clique para ampliar):