sexta-feira, 28 de setembro de 2018

2011 Mercedes-Benz SL 350 3.5 V6 AT7; a melhor fase

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por Costallat Automobile




O termo "carro de tiozão" é comumente associado a modelos tidos como sem graça, sem qualquer característica empolgante ou que minimamente os diferencie dos demais. São chamados assim porque buscam oferecer altas doses de sobriedade e conforto, tal qual a grande maioria dos compradores de idade mais avançada procura. Acontece que toda regra tem exceção, e o carro da nossa avaliação da vez é um perfeito exemplo disso.

O Mercedes-Benz SL é um clássico que já está em produção ininterrupta desde 1954. Faça as contas - são 64 anos, o que é muita coisa pra qualquer um de nós. Nosso exemplar de teste foi cedido pela Costallat Automobile, parceira oficial do VR, e está à venda por R$199.000, pouco mais da metade do valor de quando chegou no país. O exemplar é da quinta geração, de codinome R230, que foi lançada por volta de 2001 e ganhou um facelift em 2008 que a deixou mais elegante e refinada de modo geral.


Quintessência germânica

Nós tivemos contato com a versão SL 350, que veio ao país como opção de acesso à gama dos SL pelo preço de 212.000 dólares na época (que encostava nos 360 mil reais em conversão direta, mas hoje ficaria em cerca de 860 mil), mas não se deixe enganar; apesar de ser uma versão de entrada, o SL não só é um dos carros mais antigos da Mercedes-Benz como também é um dos mais importantes e caros de todo seu portfólio. O SL 350 é movido por um 3.5 V6 aspirado de 316cv a 6.500rpm e 36,7kgfm de torque a 4.900rpm, tudo enviado para as rodas traseiras por uma transmissão automática de sete velocidades.

SL vem do alemão Sportlich-Leicht, ou "esportivo leve", mas a leveza já se foi há muito tempo: são nada menos que 1.825kg entre os 4,56m de carroceria e os inúmeros mimos dedicados aos ocupantes. Ainda assim, o 3.5 V6 consegue levá-lo de 0 a 100km/h em 6,5 segundos e atingir máxima de 250km/h (limitada eletronicamente) - nada mau pra um carro de quase 2 toneladas. A suspensão independente nas quatro rodas e os freios a discos ventilados que são cobertos por aros 19 da AMG dão conta de manter o SL sobre trilhos o tempo todo, mostrando que a esportividade do nome continua firme e forte.

O santo-antônio atrás dos ocupantes é rebatível eletronicamente, e serve para proteger em caso de capotamento.

Esportivo de luxo, luxuoso esportivo

Dá para se sentir dentro de um sedan de luxo ao entrar no SL. Muito bem equipado, traz uma lista de itens de série que contempla: faróis bi-xenon com ajuste automático de altura e lavadores, ar condicionado automático de duas zonas, bancos elétricos com memória, aquecimento/ventilação e massagem, coluna de direção com ajustes elétricos e volante multifuncional com paddle shifters, faróis de neblina com função de luz de conversão, rodas AMG aro 19 com acabamento diamantado, capota com acionamento elétrico, tampa do porta-malas com função soft close (fecha sozinha quando entreaberta), todos os retrovisores fotocrômicos, entre outros.

Outra característica marcante do SL é impressionar tanto por fora quanto por dentro. A cabine é toda bem montada e não economiza no couro e nos detalhes em alumínio; nem parece que é um carro da mesma fabricante do SLK que, no mesmo ano do nosso SL de teste, trazia bastante plástico e pouco capricho no interior de modo geral. Esse refinamento do roadster maior da Mercedes-Benz não é à toa; alguns o consideram um legítimo GT, que são aqueles veículos feitos para longas viagens com o máximo de conforto possível. Seja lá qual a característica que a marca quis evidenciar nele, o fato é que há um equilíbrio sadio entre luxo e esportividade.



British way of life

O SL é alemão, mas faz você se sentir um lorde inglês ao volante dele. Explico; ao se acomodar no banco do motorista, basta dar a partida pelo botão no topo da alavanca de câmbio (ou girando a chave, no modo tradicional) com o pé no freio para acordar o seis-cilindros. O volante se ajusta eletronicamente para a última posição deixada e, então, basta colocar a alavanca em D e partir. É nesse momento que, mais uma vez, o SL se distancia muito do seu irmão menor SLK; os pedais são leves e o carro não exige nenhum esforço para se mover. O câmbio mantém os giros sempre abaixo dos 1.500rpm em condução urbana, o que garante muita tranquilidade a bordo.

Com a capota fechada, pouco se ouve do mundo externo e ainda há a opção do sistema de som que não é de "grife", mas não decepciona com graves fortes (se assim configurado) e áudio limpo. Para abrir a capota, basta erguer com cuidado o comando à frente do apoio de braço; a operação completa leva apenas 18 segundos e reduz o porta-malas de 339 para 235 litros. Logo abaixo desse comando há dois botões; um para erguer o santo-antônio e outro para abaixá-lo. Por se tratar de um dispositivo que evita que os ocupantes sejam esmagados em caso de capotamento, é melhor andar com ele levantado quando quiser brincar em trechos mais ousados.



Uma coisa que surpreende no roadster alemão é sua maciez. Qualquer um ficaria assustado ao ver uma rua esburacada adiante, ou de paralelepípedos; logo as rodas de 19 polegadas com pneus 255/30 e 285/30 (dianteiro e traseiro respectivamente) viriam à mente. Acontece que, mesmo com pneus de perfil baixo, os buracos não são tão sentidos quanto se espera inicialmente. Para não dizer que é perfeito: alguns ruídos internos chegam a incomodar, mas devemos lembrar que não é um carro pensado para o asfalto lunar predominante do Brasil.

Detalhe interessante é a fartura de porta-objetos; há duas gavetas expansíveis com tampa e botão de abertura, uma em cada porta, fora os compartimentos atrás dos assentos que seguem o mesmo esquema, e ainda permitem que pequenas bagagens de mão sejam acomodadas em cima de suas tampas, podendo ser presas por cintos próprios para isso.



Vale a pena?

Com 200 mil reais hoje, é possível comprar um bom sedan grande ou algum SUV (ambos 0km) para transportar toda a família, e ainda sobra um dinheiro considerável para fazer o que quiser. A proposta do Mercedes-Benz SL é, como a de todo bom exótico, fugir da razão: por que alguém compraria um conversível de dois lugares, relativamente grande e pesado, podendo fazer uma das escolhas acima? A resposta pode ser obtida ao abrir a capota e andar nas ruas.

Conversível é sinal de requinte, especialmente quando traz o emblema da estrela. O SL encanta nas ruas por onde passa, e também a quem dirige ou apenas passeia no banco direito graças ao rodar sublime e aos mimos que os mais exigentes fazem questão de ter em um carro. Mais do que isso: o SL já conquistou o posto de patrimônio histórico dentro da Mercedes-Benz, e segue em linha até hoje preservando as características que fizeram seu nome ao longo dos anos. É a melhor fase do exótico alemão, e cairá como uma luva na garagem de quem está no melhor momento de sua vida.


Ficha técnica


Motor: 3.5, 6 cilindros em V, 24 válvulas, aspirado
Potência: 316cv a 6.500rpm
Torque: 36,7kgfm a 4.900rpm
Transmissão: automática de sete marchas
Tração: traseira
Suspensão: independente nas quatro rodas
Freios: discos ventilados nas quatro rodas
Direção: hidráulica
Pneus: 255/30 ZR19 na dianteira, 285/30 ZR19 na traseira
Comprimento: 4,56m
Largura: 1,82m
Entre-eixos: 2,56m
Altura: 1,31m
Peso: 1.825kg
Porta-malas: 339 litros / 235 litros (capota fechada/aberta)
Tanque: 80 litros

0 a 100km/h: 6,5 segundos
Velocidade máxima: 250km/h (limitada)

Fotos (clique para ampliar):