quarta-feira, 6 de novembro de 2019

2020 Fiat Argo Trekking 1.3 MT5; aventureiro urbano

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por FCA Brasil

O Trekking é 40mm mais alto que os demais. Logotipos da Fiat trazem fundo preto

Sem nenhum SUV em seu portfólio para embarcar na onda do momento, a Fiat precisou quebrar um galho e apostar em outro segmento bastante comercial no mercado brasileiro: o dos hatches de visual aventureiro. Foi assim que nasceu o Argo Trekking, versão lançada em Abril deste ano que resgata a nomenclatura usada pela marca em modelos passados e dá um tempero diferenciado ao compacto italiano.

Posicionada exatamente entre as versões Drive 1.3 manual e Drive 1.3 GSR com transmissão automatizada, a nova opção tem preço base de R$59.990 e traz o mesmo conjunto mecânico de sua irmã mais barata, composto pelo 1.3 Firefly que bebe tanto álcool quanto gasolina e câmbio manual de cinco marchas. Como de costume, passamos uma semana com a novidade para conferir seus pontos fortes e fracos.


Capô traz adesivo em preto fosco e teto + aerofólio são pintados na cor Preto Vulcano

Apelo com tempero

O maior e, talvez, o único diferencial dos hatches "aventureiros" já produzidos até hoje foi o visual incrementado por apêndices plásticos, acessórios e/ou adesivos. Alguns também trazem racks de teto (nem sempre funcionais) e suspensão elevada - todos esses itens estão presentes no Argo Trekking, mas ele traz um elemento inédito na categoria: pneus de uso misto. Fabricados pela Pirelli, os Scorpion ATR trazem medidas 205/60 R15 e contribuem pra altura de 210mm em relação ao solo - a maior da categoria.

Falando em altura, a suspensão do Trekking foi elevada em 40mm em relação à versão Drive e teve diversos componentes reajustados para manter o equilíbrio entre firmeza/segurança e conforto de rodagem. A receita deu certo: a altura maior do solo não deixou o carro "bobo", tornando-o mais apto a passar pelas inúmeras imperfeições das ruas brasileiras sem comprometer a dinâmica de rodagem. Outro bônus é o rodar silencioso, pois pneus de uso misto tendem a fazer mais barulho que os convencionais.


Adesivo "Trekking" nas laterais é um dos muitos elementos decorativos da versão e se repete também na traseira. Rodas de liga aro 15 são opcionais, mas os pneus de uso misto vem de série

Na ponta do lápis

Pelo valor inicial de R$59.990, o Argo Trekking traz alguns itens de série como: ar condicionado, faróis de neblina, vidros elétricos nas quatro portas com função um-toque, ajustes elétricos nos retrovisores (rebatimento manual), multimídia Uconnect com tela de 7 polegadas e espelhamento para smartphones, pneus de uso misto com estepe temporário, faróis com luzes de posição em LED (sem função DRL), volante multifunção e banco do motorista com ajuste de altura, bancos exclusivos da versão com costura marrom, forro do teto da cabine em preto, computador de bordo, sensores traseiros de estacionamento, entre outros. Rodas de liga aro 15 e câmera de ré são itens opcionais separados.

Por não estar entre os mais caros da categoria, o Argo Trekking pode se gabar de trazer uma boa lista de itens. Boa, mas longe de ser perfeita: a Fiat repetiu o erro da Drive 1.3 manual de não oferecer controles de tração e estabilidade sequer como opcionais, além de cobrar caro pelas outras opções de cores disponíveis e pecar em detalhes como não conjugar a função de luzes de circulação diurna (DRL) nos faróis e não incluir o ajuste de profundidade do volante - há apenas o de altura. São cobrados 710 reais à parte pela câmera de ré com linhas-guia dinâmicas e 1.650 pelas rodas de liga, pois o modelo vem originalmente com calotas.

Na ponta do lápis, um Argo Trekking como o nosso de teste combina a cor Branco Banchisa (R$800) + câmera de ré (R$710) + rodas de liga aro 15 (R$1.650), totalizando R$63.150 e podendo chegar a 64.650 reais caso o cliente opte pelo Branco Alaska perolizado.


Motor 1.3 Firefly é, para nós, o melhor motor disponível para o Argo atualmente

Não foi dessa vez

Conforme o lançamento do Argo Trekking se aproximava, começaram as especulações de que a versão estrearia uma aguardada transmissão automática do tipo CVT, visando substituir a polêmica GSR (que é uma Dualogic atualizada e rebatizada), mas isso não aconteceu, tampouco houve a estreia de algum propulsor inédito. A nova versão traz o mesmo 1.3 de quatro cilindros flex da Drive, capaz de gerar até 109cv e 14,2kgfm de torque e gerenciado por uma caixa manual de cinco marchas. Uma nova dupla de motor e câmbio deverá ser oferecida na versão muito em breve: o 1.8 E.torQ com transmissão automática de seis marchas das versões Precision e HGT.

Antes que a notícia da ausência de novidades mecânicas gere descontentamento, é importante frisar que consideramos o 1.3 Firefly como o melhor motor oferecido no Argo até agora: é tão novo quanto e mais forte que o irmão 1.0, mais moderno e bem mais econômico que o antiquado 1.8 das versões mais caras e é capaz de mover os 1.130kg do Trekking sem qualquer problema. É uma pena que a transmissão não acompanhe a modernidade do motor, pois apresenta o mesmo comportamento de relações estranhas e engates imprecisos/indiretos observado em modelos anteriores da marca. Uma caixa nova com engates firmes e escalonamento revisado cairia muito bem.


Cabine do Argo Trekking é bem montada e passa a impressão de qualidade

Bom companheiro

O principal ponto forte do Argo sempre foi a cabine, e com o Trekking não é diferente. Aliás, a versão aventureira parece ainda mais refinada por dentro graças a detalhes como o teto preto e logotipo de fundo escurecido no volante, elementos que fazem contraste com os detalhes cromados no painel e criam um ambiente harmonioso que agrada aos olhares da maioria. O mesmo não pode ser dito das portas que trazem pouquíssimas partes em tecido (mesmo na região de apoio do braço) e poderiam mostrar mais capricho como no painel. No geral, o conjunto é bem montado e não incomoda com ruídos, passando a sensação de qualidade construtiva.

O sistema de som também merece nota. Composto por seis alto-falantes, a sonoridade é limpa e conta com uma boa amplitude de ajustes através da tela do multimídia Uconnect que, por sua vez, mostrou funcionamento correto e sem travamentos, embora a interface seja deveras confusa por exibir muita informação "solta". Vale lembrar que ele não traz GPS nativo, mas a função pode ser utilizada através do espelhamento com smartphones Apple e Android: basta conectar o aparelho via USB a alguma das duas tomadas disponíveis e selecionar seu app de preferência na tela.


Bancos trazem padronagem exclusiva da versão e apoios laterais mais pronunciados

O dia-a-dia com o Argo Trekking não traz sustos ou surpresas. As modificações da engenharia da marca deixaram o compacto mais confortável e capaz de vencer pequenos obstáculos como buracos, ressaltos e demais defeitos comuns em nossas pistas, tudo sem reclamar, bater ou raspar. O consumo também foi razoável: abastecido com etanol, a média geral ficou na casa dos 9,4km/l, tendo o pico de consumo em 7,5km/l e o pico de economia em 12,3km/l, números obtidos com uso alternado de ar condicionado e de uma a quatro pessoas a bordo.

Das partes ruins desse convívio, as mais incômodas são: a ausência do controle de estabilidade que deixaria o carro mais seguro e traria, de quebra, o assistente de partida em rampa, muito útil por dispensar o uso do freio de estacionamento em pequenas saídas em aclives e o conjunto de câmbio/embreagem. Além dos engates imprecisos da caixa, a embreagem é mais pesada e alta do que a média, causando mais cansaço especialmente em congestionamentos. São características que remetem ao Uno e podem ser relevadas nele, mas não no Argo que custa mais e disputa em uma categoria mais refinada.

Outro ponto que deixaria o Argo melhor de dirigir é a relação de marchas: a primeira é curta demais, a terceira é longa demais e a quinta poderia ser mais longa. Viajando a 110km/h, o motor fica na casa dos 3.300rpm como seria normal em um motor menor como um 1.0 aspirado, mas lembre-se que estamos falando de um 1.3. Talvez a adoção de uma sexta marcha resolvesse o problema, melhorando o consumo e reduzindo o trabalho do motor em alta velocidade.


Na traseira, emblemas originalmente cromados receberam acabamento em preto fosco e há uma ponteira de escape retangular, também acabada em preto fosco

Considerações finais

O Argo Trekking está longe de transformar você em um trilheiro, mas pode ser uma opção interessante para quem procura um compacto de visual mais "descolado" e quer gastar na faixa dos 60 mil reais. O modelo agrada pelo bom comportamento, oferece pacote decente de itens, tem apetite comedido e nem é dos mais caros da categoria, mas precisa rever alguns detalhes para ficar mais atraente.

Adotar os controles de tração e estabilidade é algo que deve ser feito o quanto antes, além de incluir o ajuste de profundidade ao volante e providenciar uma atualização ou troca de transmissão manual. São pontos que vão melhorar o convívio com o italiano e podem, consequentemente, alavancar as vendas dele.



Concorrentes diretos (pela categoria hatch "aventureiro"): Ford Ka FreeStyle, Hyundai HB20X, Volkswagen Fox Xtreme, Volkswagen Up! Xtreme, Renault Stepway

Concorrentes indiretos (pela categoria hatch compacto): Volkswagen Gol 1.6, Fox Connect 1.6, Up! Connect 1.0 TSI, Ford Ka SE 1.5 automático ou SE Plus 1.5 automático, Renault Sandero Zen 1.6 manual, Hyundai HB20 Vision 1.6 manual, Toyota Etios X Plus 1.5 manual




Ficha técnica

Motor: 1.3, 4 cilindros em linha, 8 válvulas, flex
Potência: 109cv (E) / 101cv (G) a 6.250rpm
Torque: 14,2kgfm (E) / 13,7kgfm (G) a 3.500rpm
Transmissão: manual de cinco velocidades
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos sólidos na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 205/60 R15
Comprimento: 3,99m
Largura: 1,72m
Entre-eixos: 2,52m
Altura: 1,56m
Peso: 1.130kg
Porta-malas: 300l
Tanque: 48l

0 a 100km/h: 11 segundos
Velocidade máxima: 175km/h


Fotos (clique para ampliar):