segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

2020 Fiat Cronos HGT 1.8 AT6; receita italiana com tempero brasileiro

Texto e fotos por Yuri Ravitz
Modelo cedido por FCA Brasil


Visual "blackout" deixou o sedan com um ar mais agressivo e foi alvo de elogios de todas as partes


Enquanto a Fiat comemora o sucesso do compacto Argo na versão "aventureira" Trekking (que já avaliamos), seu derivado três volumes busca atingir um público diferente e, para isso, conta com uma gama diferenciada em relação ao irmão hatch: além de não oferecer o motor 1.0, o sedan Cronos chega ao Brasil importado da Argentina, ainda pode ser comprado com o câmbio automatizado GSR (que deixou de ser oferecido no Argo) e é vendido em menos versões do que o hatch. A atual top de linha e que é a principal novidade da linha 2020 é a HGT, que testamos por uma semana para trazer todas as impressões a você.

Com proposta "esportivada" (apenas estética), a variante HGT custa exatos 3 mil reais a mais do que a Precision, antiga opção de topo, ou seja: seu valor base é de R$78.490, mas, pode subir rapidamente ao escolher qualquer cor que não seja o Preto Vulcano e equipar o carro com os pacotes opcionais. Um modelo como o nosso carro de teste traz a cor Vermelho Monte Carlo (R$950) + bancos em couro (R$1.690), câmera de ré (R$800), kit Tech (R$2.200), pacote Bicolor (R$900) e airbags laterais (R$2.900), totalizando R$87.930. Já as cores metálicas/perolizadas saem por R$1.750 à parte.

Spoiler na tampa traseira se destaca no HGT. Para ter o teto preto, é necessário levar o pacote Bicolor

O que muda?

A variante HGT se baseia na Precision, porém, traz alguns detalhes que a destacam diante das demais: já ouviu falar em "chrome delete"? Como sugere o nome, é uma tendência de customização onde todos os cromados da carroceria são substituídos pelo preto, e foi exatamente o que a Fiat fez no Cronos HGT. Todos os frisos e elementos antes cromados, aqui recebem acabamento em preto fosco (nos emblemas) e brilhante (demais partes), com exceção da peça "AT6" na tampa do porta-malas e o HGT estilizado no para-lamas dianteiro. As rodas aro 17 de série são as mesmas opcionais no Precision, mas, com acabamento em preto brilhante total.

Diferente do Argo HGT, o Cronos não traz um acerto mais duro de suspensão. Segundo a Fiat, a proposta dessa versão no sedan é atender aos clientes que querem um visual mais agressivo sem, necessariamente, ter um carro que ofereça uma condução mais esportiva, mantendo o conforto de semprel. Até mesmo o trato visual é mais simples do que no Argo HGT (sem os arcos plásticos nos para-lamas), o que também explica a diferença de preço menor sobre o Precision quando comparado ao Argo em versão equivalente - no hatch, a diferença entre a Precision e a HGT é de 5 mil reais.

1.8 E.torQ é antigo mas, segundo rumores, ainda deve receber uma atualização para durar até 2025

Últimos suspiros

O Cronos HGT é oferecido com um único conjunto de motor/transmissão: o conhecido 1.8 flex aspirado E.torQ EVO gerenciado por uma caixa automática convencional de seis marchas - esqueça a automatizada GSR/Dualogic, pois, não existe qualquer relação entre ambas. Esse motor gera até 139cv e 19,3kgfm quando abastecido com etanol e, apesar de defasado, movimenta os 1.271kg do Cronos sem dificuldade. A caixa é fabricada pela japonesa Aisin e, em conjunto com o 1.8, oferece uma condução bastante agradável de comportamento suave, além de permitir trocas manuais pelos paddle shifters ou na própria alavanca.

Acontece que essa dupla não deverá continuar em cena por muito tempo. Isso porque a Fiat promete lançar uma nova transmissão automática do tipo CVT e, paralelo a isso, apresentar a gama de motores Firefly turbinados por volta das proximidades de 2021. Com a chegada das novidades, é certo que os atuais serão reposicionados como opções intermediárias ou, dependendo do andar da carruagem, até mesmo extintos.

Cabine é sóbria e bem montada, mas as portas mereciam mais capricho - ainda que fosse apenas estético

O preço da comodidade

Pelo valor base de 78.490 reais, o Cronos HGT vem equipado com: ar condicionado digital, trio elétrico (vidros, travas e retrovisores), multimídia Uconnect com espelhamento para smartphones, faróis de neblina, faróis principais com luzes de posição em LED (sem função de luz diurna), volante com ajuste de altura e profundidade, piloto automático, computador de bordo com tela em alta definição, forro interno do teto na cor preta, rodas aro 17, controles de tração e estabilidade, direção elétrica, sensores de ré, entre outros.

Para ter alguns mimos é preciso pagar a mais e escolher algum dos opcionais. O pacote Tech, por exemplo, agrega retrovisores com rebatimento elétrico e "puddle lights" (LEDs brancos de cortesia que iluminam o chão na hora da abertura da porta), chave presencial com partida por botão, sensores crepuscular e de chuva. Pela quantia pedida por ele, pelo menos os airbags laterais e a câmera de ré já deveriam vir de série, visto que são itens que aumentam a segurança e comodidade do veículo.

Cronos tem bom porta-malas mas o entre-eixos é o mesmo do Argo

Cordeiro em pele de lobo

O Cronos HGT parece agressivo no contato visual, mas, é andando pelas ruas que desfaz essa primeira impressão. Exceto pelos pneus de perfil 45 que não absorvem tanto as imperfeições da pista, o sedan compacto se movimenta de modo agradável e "maduro", lembrando um sedan médio; ainda consegue passar certa sensação de esportividade nas curvas, onde a carroceria rola pouquíssimo e ele se mantém sob controle o tempo todo. Pneus de perfil um pouco maior (como um 50) seriam mais apropriados, pois, reforçariam o lado confortável e passariam pelas ruas esburacadas sem sofrer tanto.

O que impressionou foi o consumo: rodando somente com etanol, conseguimos uma média geral de 11,8km/l rodando com ar condicionado ligado direto e três pessoas a bordo, chegando a ótimos 15,2km/l de pico de economia e 7,4km/l de pico de consumo. Percorremos 450km entre percurso urbano e rodoviário, e o comportamento na estrada também agradou: a 110km/h, o câmbio mantém o motor abaixo dos 3.000rpm proporcionando uma viagem tranquila, mas, não muito silenciosa - também por culpa dos pneus mais baixos que são ruidosos em velocidades mais altas.

Volante em couro traz paddle shifters e comandos de rádio na parte traseira

Apesar do comportamento pacato, basta provocar o sedan para ver seu outro lado. Mesmo sendo um motor antigo, seus números se aproximam aos dos blocos 2.0 que eram usados por alguns sedans médios há bem pouco tempo (ou que ainda são, como no caso do Honda Civic), o que significa que o Cronos HGT consegue ser bem esperto e ágil quando necessário. O que incomoda aqui é o "kickdown" que não é dos mais rápidos e o fato do motor só acordar à partir dos 3.750rpm, faixa de giro onde o torque aparece por completo, o que obriga o motorista a esticar mais as marchas para extrair algo do carro.


Posicionamento controverso

A essa altura, você já deve ter percebido que o Cronos HGT é um bom carro, mas, faz jus à sigla? Na nossa opinião, a resposta é não e o motivo é simples: ela sugere esportividade além do visual, o que não é o objetivo aqui. Os detalhes em preto brilhante são itens existentes no pacote S-Design que, até o momento, só está disponível para o Cronos na versão Drive 1.3 com câmbio manual - ele deveria ser estendido até a variante Precision, o que deixaria espaço para um HGT com verdadeira vocação esportiva e, principalmente, mais recheio, a fim de bater de frente com modelos como o recém-lançado Volkswagen Virtus GTS. Talvez isso aconteça com a chegada dos Firefly turbinados, o que estamos torcendo para que se concretize.

Além disso, como já foi dito anteriormente: por ser uma versão top de linha, o HGT já deveria vir de série com alguns dos opcionais oferecidos como os airbags laterais e a câmera de ré, bem como trazer a função de luz diurna (DRL) conjugada nas luzes de posição em LED - um erro banal que é repetido pela Hyundai no HB20 desde a geração passada. Pneus ligeiramente mais altos também seriam bem-vindos, pois, deixariam o rodar do carro mais silencioso e passariam menos os defeitos da pista para a cabine.

Design do Cronos é tipicamente italiano e, olhando rápido, remete a um Alfa Romeo

Considerações finais

Já andou em um Cronos Precision? Não vai sentir diferença alguma no HGT. O sedan continua agradando pelo rodar confortável e sem sustos em qualquer situação, além do tratamento visual ter caído muito bem e despertado o desejo de alguns leitores em nosso Instagram. O problema é que a versão pode decepcionar aos que esperam algo mais "apimentado" digno da sigla High Gran Turismo - se é o que você procura, leve o irmão hatch para casa. O foco do Cronos HGT é o proprietário que quer aparecer sem andar apressado.

A lista de equipamentos da versão é boa, a direção é bastante agradável e o conjunto motor-transmissão é competente, mas, não brilha como os turbinados mais modernos que podem ser encontrados nos rivais. Paralelo a isso, o porta-malas é grande, mas, o entre-eixos é o mesmo do Argo, o que não ajuda a quem procura mais espaço interno. Se essas são suas prioridades, vale a pena dar uma olhada nos rivais antes de fechar negócio; ainda assim, o Cronos HGT é um carro comum com visual temperado e, por isso, promete agradar a uma boa fatia de compradores.

Computador de bordo é um dos mais completos atualmente e conjuga temperatura do arrefecimento + marcador do tanque de combustível

O modelo avaliado não possui concorrentes diretos na categoria sedan compacto "esportivado".

Concorrentes indiretos (entre 75 e 85 mil reais): Chevrolet Onix Plus Premier, Volkswagen Virtus Comfortline ou Highline, Hyundai HB20S Diamond ou Diamond Plus, Honda City EX ou EXL, Toyota Yaris Sedan XL Plus ou XS.


Ficha técnica

Motor: 1.8, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, flex
Potência: 139cv (E) / 135cv (G) a 5.750rpm
Torque: 19,3kgfm (E) / 18,8kgfm (G) a 3.750rpm
Transmissão: automática de seis velocidades
Tração: dianteira
Suspensão: independente na dianteira, eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Direção: elétrica
Pneus: 205/45 R17
Comprimento: 4,36m
Largura: 1,72m
Entre-eixos: 2,52m
Altura: 1,51m
Peso: 1.271kg
Porta-malas: 525l
Tanque: 48l

0 a 100km/h: 9,7 segundos
Velocidade máxima: 193km/h


Fotos (clique para ampliar):